quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Paraguay entra na mira de empresas do Paraná.

Paranaenses devem investir quase R$ 1 bilhão no país vizinho nos próximos anos. Sozinha, Globoaves vai desembolsar perto de R$ 120 milhões
De olho nas facilidades para produzir e exportar, empresários paranaenses vão investir cerca de US$ 550 milhões (R$ 946 milhões) no Paraguai nos próximos anos. Parte desse montante, US$ 70 milhões (R$ 120 milhões), será aplicado pela Globoaves, gigante do mercado avícola. Com sede em Cascavel (Oeste do estado), a empresa pretende instalar uma cadeia produtiva de avicultura no município de Santa Rita, a 70 quilômetros da fronteira com Foz do Iguaçu. A longo prazo, outras empresas paranaenses pretendem fazer aportes nos setores de aviação civil, móveis, eletrodomésticos e hotelaria.
Os investimentos paranaenses acompanham o ritmo de forte crescimento do capital brasileiro no país vizinho. De 2005 a 2009, os investimentos de empresas brasileiras no Paraguai já contabilizados – os chamados “estoques de investimento” – triplicaram, passando de US$ 137 milhões para US$ 413 milhões.
O complexo agroindustrial que a Globoaves pretende instalar em Santa Rita compreende a construção de 256 aviários de 2,1 mil metros cada, uma fábrica de ração para produzir 40 toneladas por hora e um frigorífico para abater inicialmente 160 mil aves por dia dia até chegar a 320 mil, segundo Marcos Bertoli, responsável pelo Departamento de Negócios Internacionais da Globoaves. A expectativa é gerar 3 mil empregos diretos, inclusive com mão de obra paraguaia.
Toda a produção será exportada para Europa e Oriente Médio. O investimento compensa, segundo Bertoli, porque o custo de produção no país vizinho é mais baixo, em razão dos custos menores de mão de obra e eletricidade. “Os custos de produção são 28% mais baratos que no Brasil. É altamente competitivo produzir no Paraguai.” Por outro lado, será preciso melhorar o acesso até os aviários – boa parte das estradas não é asfaltada – e também treinar funcionários. As obras devem começar a partir de março, com previsão para inauguração no fim de 2012.
Otimismo
Em Santa Rita, a chegada do empreendimento é aguardada com expectativa, não só pela geração de empregos mas também pela diversificação da produção. As negociações começaram há dois anos, com apoio da prefeitura, que ofereceu incentivos para a compra do terreno.
A Globoaves vai se instalar no Parque Industrial de Santa Rita, área de 32 hectares a dez quilômetros do centro. Dezoito hectares serão destinados à empresa brasileira e o restante, a pequenos empreendimentos locais. Para o prefeito de Santa Rita, Fidel Ojeda, a cidade dará um salto. “O investimento é necessário porque hoje temos matéria-prima suficiente, mas agregar valor a ela.”
Apesar de estar em uma das regiões mais prósperas do Paraguai, o entorno de Santa Rita não tem tradição na geração de empregos em larga escala porque a agricultura, o principal negócio, não absorve tanta mão de obra quanto uma indústria, por exemplo.
Mudança estrutural
Na avaliação do diretor do Centro Empresarial Brasil-Paraguai (Braspar), Wagner Ênis, a instalação da Globoaves no Paraguai provocará uma mudança na estrutura produtiva do agronegócio. “Até o momento, os pequenos produtores rurais do Paraguai vêm exportando seus bens com baixo valor agregado e a cada temporada existe uma forte insegurança sobre a colocação e o preço destes produtos, como o milho”, diz.
Para Ênis, a chegada da agroindústria trará estabilidade para a diversificação produtiva das pequenas propriedades rurais. Outros benefícios proporcionados pela entrada de empresas estrangeiras no país vizinho, avalia, são a transferência de tecnologia, a formalização e o aumento na arrecadação de impostos.
Região vê oportunidade de diversificar
A cidade escolhida para ser sede da Globoaves-Paraguai é conhecida por ser um bolsão do desenvolvimento agropecuário. Loca­li­­zada no departamento (estado) de Alto Paraná, na fronteira com o Brasil, Santa Rita destoa da maior parte dos municípios do interior do Paraguai. Não só porque às vezes mais parece uma réplica de cidades do interior do Rio Grande do Sul, em razão da grande presença de imigrantes gaúchos, mas também porque a pujança do agronegócio do país passa por lá.
Com oito hotéis, sete agências bancárias, três casas de câmbio, quatro faculdades e bairros com casas de luxo, a cidade de 25 mil habitantes – dos quais 60% com origem brasileira – transformou-se em polo de uma região que hoje é um “eldorado” da produção de grãos. Juntas, nove cooperativas de Santa Rita e municípios vizinhos produziram aproximadamente 140,6 mil toneladas de milho em 2009, cerca de 8% da produção nacional. A região também produz soja, trigo e girassol.
Vizinhos
Não são apenas os moradores que devem ganhar com a chegada da primeira indústria em Santa Rita. Os municípios e colônias do entorno, Naranjal, Santa Rosa del Monday, San Cristobal e Naranjito – área das cooperativas agrícolas – também esperam o benefício.
A Unicoop, central que reúne nove cooperativas e cerca de 5,2 mil cooperados, vai intermediar a participação de agricultores na Globoaves. A presidente, Simona Cavazzutti, diz que a central de cooperativas dará apoio logístico à Globoaves e, se preciso, oferecerá financiamento para produtores que queiram criar frango.
Valdenir Bianhessi, tesoureiro da Cooperativa de Produção Agropecuária Naranjal – Coo­pronar, diz que a chegada da Globoaves proporcionará oportunidade para o agricultor diversificar a produção de grãos e atuar na criação de frangos. “Po­­demos produzir milho e criar frango”, 
Novo setor
País sonha com atividade mineradora
Os paraguaios andam animados com a possibilidade de que uma indústria mineradora se desenvolva no país. O otimismo é grande desde que uma empresa canadense começou a fazer perfurações nos limites dos departamentos de Alto Paraná e Canindeyu, há mais de um ano.
A expectativa, segundo o Diretor de Recursos Minerais do Ministério de Minas e Energia do Paraguai, Victor Fernandez, é encontrar titânio em grande quantidade. As perfurações estão sendo feitas em uma área de 100 mil hectares. O titânio é bastante usado pela indústria, sobretudo para produção de ferro e alumínio.
Para Fernandez, o setor é importante para o Paraguai – hoje sem tradição em mineração – porque passará a ser incorporado como um novo fator de desenvolvimento.
Os investimentos argentinos também são realidade no Paraguai. No ano passado, o montante chegou a US$ 167 milhões. A maioria das empresas argentinas investe nos setores de logística e construção. Conforme o Centro Empresarial Brasil-Paraguai (Braspar), as empresas paraguaias dominam 80% do movimento da hidrovia Paraná-Paraguai, mas a maioria da que têm bandeira paraguaia é, na verdade, de capital argentino. (DP)

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